terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Vida de Gado, Vida de Cleaner - parte 2 (terça-feira e sexta)

Como andei contando sobre os donos das casas, terça-feira era pior dia, era o dia da casa da "Feiona" ou porcona mesmo... o nome dela é o mesmo da esposa do Shrek, daí feiona...

Bem, começávamos por ela... era uma casa longe... longe... longe... todas as casas de Marciana são longe... na região de Lewisham, sul de Londres, e do outro lado da rua ficava a casa da amiga dela que também era cliente de Marciana, iriamos pra lá depois... e mais história...

Mas Feiona tinha dois filhos e uma casa como as tradicionais inglesas e não lembro se já falei aqui sobre isso: por fora, você não dá nada, por dentro, ela expande para o fundo e para cima... são enormes!

A Feiona deixava a casa simplesmente emporcalhada... eu não cheguei a conhecer uma pessoa mais imunda que ela, mas várias que chegaram beeem perto, porque inglesa não liga muito pra manter a casa limpa, acha que é só se faxinada algumas horas na semana por uma cleaner...

O primeiro dia que cheguei, já assustei com a cozinha: ela também deixa a louça naquela bacia nojenta, só que a bacia nojenta dela é mais do que nojenta! Toda a louça estava lá no meio da gordura e restos de comida.
Marciana não sabia ligar a máquina de lavar louça (já estou dando uma pista do porquê do apelido dela...) e não me avisou que havia uma e lavei aquela nojeira na mão, claro, jogando beeem longe aquela bacia imunda. E Marciana reclamando comigo porque tem um jeito próprio de se lavar louça na bacia, que é uma combinação com as torneiras fria e quente e eu pouco ligando pro puxassaquismo dela. Combinação de água quente com fria? Jeito certo de lavar? Economizar água?
O caralho pra aquela porquice!

Imagine: o fogão estava todo cheio de porridge, o mingau de café da manhã dos ingleses, cheio de leite grudado com aveia e... Feiona é tão boa dona de casa que para fazer tudo mais rápido, pelo rastro que deixou no chão, tirava correndo do fogão imundo e jogava na mesa de jantar para que comessem, também tinha restos do café da manhã pela mesa e chão, claro!
Todos os cereais das crianças e suas canequinhas etc.

A cozinha, como deu pra perceber era imunda. E Marciana ficava mandando eu limpar melhor a cozinha. Juro que quando vi aquela cozinha desanimei e fiquei pensando que dar uma enganada naquela casa seria o melhor, mas Marciana ia lá e falava pra eu deixar brilhando o vidro do fogão... era pra tirar uma meleca danada! E imagina que Marciana fazia isso toda a semana!
Quer dizer, só uma vez na semana o fogão era limpo.

A sala era enorme, dividida em sala e sala pras crianças brincarem, ou seja: muita bagunça. Era fácil achar pedaços de doces no meio dos sofás.
O banheiro não era tão imundo, afinal, ainda bem! Era janeiro e eles não tomam banho! Mas... a mulher deixava cabelo por todo o lado...acho que ela precisava de um tratamento pra queda de cabelo porque era um inferno de cabelo pra todo canto!
Eu não tinha muito saco mesmo pra limpar aquela imundice toda e tentava dar um jeitinho, mas Marciana pra mostrar serviço (pra mim, claro) ia lá e mostrava como limpar bem. Então que limpasse, a minha mão estava bem, a dela que não estava e numa casa daquelas, não se merecia muita coisa.
O quarto das crianças também não eram tão problemáticos, mas o problema é sempre o carpete... aspirar os malditos carpetes...

Mas não é só isso!
Como diriam aquelas propagandas...
Tinha o quarto da figura pra limpar e eu já disse, elas querem que se faça até a cama, como se fôssemos camareiras de hotel.
Bem, cama desarrumada já era de se esperar, né? mas roupas todas jogada pelo chão?
As inglesas tem uma péssima mania de largar todas as roupas pelo chão ao invés de guardarem no armário ou pôr numa cadeira... fica tudo jogado... não jogado porque ela e o marido tiveram muito o que fazer durante à noite, jogado porque largam a roupa pra qualquer canto, bangunçado mesmo. No quarto que ela tinha pras roupas, com armários, era igual!
Só que ainda há o pior!
Entre os cantos que sobram entre o colchão e a cama havia vários papéis higiênicos dobrados... não tiramos... nem a Marciana dessa vez pôs a mão... e ficaram lá por quatro semanas, porque o casal Shrek não tirou (ogros...), daí, na última semana resolvemos fazer algo: aspirador neles! rs
Só poríamos a mão com luva, mas até assim ficamos com nojo!

Nas outras semanas, dona Marciana me falou da existência da máquina de lavar louça e eu joguei tudo lá, toda aquela melequice e não via a hora de passarem os dias pra não ir mais naquela casa e ao mesmo tempo pensava que precisava daquele dinheiro...

Ah! tinha que se passar a roupa também! E a feiona queria que passasse até a toalha de banho... mulherzinha dos infernos, a casa uma imundice e cada vez inventava uma coisa: pra limpar rodapé, limpar sei lá o quê... como se em quatro horas (quando eu ia era em 2 horas, duas horas pra cada) desse pra limpar a imundice que ela acumulava a semana toda e ainda queria mais coisas!
Só com um "spring cleaning" a casa ficaria decente.
Spring Cleaning é isso mesmo: a limpeza da primavera, porque no inverno (e em todo o resto do ano rs) a sujeira fica lá se acumulando até que um belo dia de "primavera" a dona da casa pensa: oh! essa casa precisa de uma limpeza pesada!

Marciana me pagava 7 libras a hora para ajudá-la. Nessa casa, na da segunda-feira e da próxima, elas eram amigas e pagavam igual: £8,50 a hora. Em algumas casas ela ganhava 12, em outras 10.

Dessa casa, íamos pra amiga da Feiona que tinha um casal de filhos, casa mais bem arrumada, tinham acabado de reformar e para me alegrar a vida colocaram nos quatro andares carpete creme... ah! como eu amava ir naquela casa e passar aspirador cômodo por cômodo, escada por escada... e sempre os malditos carpetes felpudinhos pegavam e não largavam os fiapos de roupa... ah, que lindo que era ver aquele monte de bolinha de roupa naquela merda creme...
E o aspirador que pesava uns 10 kilos... ah, que vontade de jogá-lo pelos 4 andares abaixo... ou na cabeça de quem comprou aquela merda que mal aspirava, só pesava.
A menina, de graça, tinha uma beliche no quarto, só pra ela e eu pensava: vc tem uma beliche porque é divertido quando é criança, né? Vai dormir na minha!

Eu ficava olhando... a mãe levava a menina pra escola e o menino, muito pequeno, pra passear no parque, aí ela voltava, mas como ela era uma mãe estranha... ou todas as inglesas têm essa estranhice maternal?
Ela não fazia almoço, comia um lanchinho como todo inglês e fazia o mesmo com o menino de uns 2 anos que amava Toy Story e tinha os bonecos. Um menino fofo!!
Um dia, ela voltava pra casa com o menino dormindo no carrinho e empurrava, empurrava o carrinho pra entrar e não entrava, tive que ir lá falar e mostrar pra ela: o pézinho do menino ia se enfiando cada vez mais debaixo do carrinho, dobrando por conta da pressão que ela fazia pra empurrar e o tapete de entrada.
O menino não chegou a chorar, mas eu a vi como uma louca que não reparou um só momento e que nem ficou preocupda quando mostrei, só tirou o pé do bebê... e ficou lá... mandando mensagens sem parar no celular, como sempre a via fazer.

Marciana, como boa puxa-saco, achando que a dona da casa se importava com ela, começou a falar que estava com saudade do filho que tinha ido pro Brasil (história pra outro post) e também comentou da enchente no Rio de Janeiro que aconteceu naquele mês de janeiro.
Falava no inglês dela: see the flódi in Rio de Janeiro? My son is in Brazil.
A mulher só olhou pra ela e disse: não sei disso não. E continou com a vida atarefada de mandadora de mensagens por IPhone.

Dessa casa, tínhamos uma terceira, ainda mais longe e que pra voltar tínnhamos que pegar o trem até London Bridge se estivéssemos com pressa.
Era a casa de um espanhol e como bom latino, a casa de um homem solteiro era mais limpa que qualquer casa de uma inglesa casada.
Aí sim fazíamos o que a faxineira faz no Brasil: limpa o que não dá pra limpar no dia a dia com a correria. Era uma casa tranquila, sem grandes problemas por ser muito limpa e organizada.

Mas Marciana acabou dando um grande fora e a máscara de boa mãe, religiosa, temente a Deus, fiel aos bons costumes e honesta começou a cair...
Ela, dias depois, acabou comentando que o espanhol era tão gente boa que como não a dispensou do trabalho por conta de ela estar com a mão operada resolveu pagar além da hora para ela, para a ajudante (ou seja, eu!). Ela sem perceber me contou que era pra eu estar ganhando mais, não só 7 por 1 hora e meia nessa casa... mas acho que 10 por 3 horas! 10,50 para 30 libras é uma boa diferença no bolso meu e, claro, de Marciana...

Quarta e quinta-feira as donas das casas, algumas a dispensaram e até pagaram pra ela ficar em casa, outras não queriam ajudante e só fui numa das casas de quinta, de, como diria a própria Marciana: a casa do gay. Nunca o conheci, mas era uma casa também tranquila e longe, essa era preciso pegar o metrô e era em outro sentido, noroeste de Londres, perto de Wembley.
Só tinha muitas camisas sociais para passar e aí aprendi a passar (ou a enganar) essas horripilantes roupas...
Ela o chamava assim porque fazia a casa do companheiro dele, então, ela sabia bem a vida dos patrões...
Ela não fala inglês, entende pouco, mas acredito que muita das coisas que tenha percebido sobre a vida deles, foi porque anotou e mostrou pro filho, não só esse casal, mas das outras famílias.
O filho mandava e respondia as mensagens do celular para ela. Como já disse, outra história.

E sexta tinha mais! Tinha uma casa também tranquila que era de 15 em 15 dias que se tinha que passar roupa e uma de uma professora quase para se aposentar que Marciana, finíssima, chamava de "a casa da sapatona".
A dona da casa era simpática e até deu uma garrafa de vinho para Marciana e outra pra mim, pelo Ano Novo que se iniciava - o vinho da minha mala, sabem já a história toda dele... - ela conversava bastante e saia para podermos limpar a casa tranquilamente.
Eu não vou esquecer de um dia, arrumando a cama de um dos quartos da casa, que era uma espécie de duas camas juntas formando uma cama de casal com um aparato tipo aqueles de deixar a cama mais alta igual em macas e a mulher de Marte disse: sei lá que cama maluca é essa, deve ser pra imundices de sapatona!
Não sei que tipo de cama era aquela, me parecia pra algum tipo de problema de coluna ou algo assim, mas Martian (rs) como uma pessoa sem preconceito, já tinha julgado e condenado a professora.

Salvem a professorinha!

Havia outra casa na sexta, mas era a mesma de uma mulher da quarta que a dispensou.
E assim minhas semanas de janeiro se passaram, mas antes que janeiro terminasse, tive que conciliar esse trabalho com um durante os finais da tarde, limpando escritórios, nooooooooooo

Império do Fado!
(próxima parada)

2 comentários:

  1. Brabo! Eu acho que nao aguentaria 1 dia limpando a casa desse pessoal! Bom que vc tá voltando pro Brasil. Antes de começar a postar sobre a vida em SP, termina de contar sobre Londres!

    ResponderExcluir