quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A BuRRocracia Inglesa e o Jeitinho Brasileiro

Depois das simpáticas patadas de Soudemorte, comecei a sair de casa todos os dias, todos os dias eu inventava o que fazer: distribuir cv, comprar algo, ver emprego etc.
Alguns empregos era só preciso ligar, mas eu já estava traumatizada com o telefone, não pela questão do Soudemorte, mas porque uma atendente não me entendeu e pediu pra que eu chamasse alguém pra falar com ela... uma atendente do insurance number. Só tinha o Soudemorte para fazer isso, eu NUNCA pediria um favor para ele e não pedi, pedi para a Ad e disse que Soudemorte foi rude comigo e não iria pedir para ele, pedi para que ela não contasse à Collorida, mas do jeito que aquelas duas falam mais que a boca, nunca vi duas pessoas se juntarem pra falar e nem pararem pra respirar, duvido que Collorida hoje não saiba, só não sabe o que aconteceu exatamente porque não contei para Ad.
Para se trabalhar aqui e fazer tudo, você precisa de um número, de um documento que se chama “nacional insurance number”, para tirar o negócio é simples: você precisa apresentar uma carta, uma conta, para confirmar o seu endereço. Se não for uma conta sua, não vale. Eu tinha acabado de chegar e não tinha conta nenhuma em meu nome... bem, então, abra uma conta de banco aqui para mandarem correspondência pra você: o banco só abre conta pra vc de cartão de débito pra tirar dinheiro no caixa eletrônico, nada de compras; nada de compras, nada de dívidas, nada de contas a pagar que vai até o seu endereço... e minha conta no banco de 4 letras que tem no mundo todo? Só posso transformar minha conta numa conta inglesa depois de um ano aqui... e então vou mudar meu celular de pré-pago para pós-pago, terei uma conta pra pagar e provar meu endereço! Pós-pago só pode com cartão de crédito de conta inglesa...
E estou esperando, até o momento que escrevo esse post, um caridoso empregador que me empregue e tire o insurance pra mim... pelo empregador seria a outra maneira...
Para se ir ao médico também, há os postos de saúde daqui que se chamam GP e o INSS é o NHS.
Estava com uma alergia que não aguentava mais, com certeza tinha sido ainda em Portugal, tinha sido mordida por algum bicho e não aguentava de coceira nas pernas e braços há dias... Resolvi ir no GP, eles fariam meu cadastro e poderia começar a usar o posto de saúde. Ledo engano: quanto tempo você vive aqui: 3 semanas. Ah, então não pode... você precisa ter 6 meses pra ter um cadastro/ficha aqui, mas pode ir ao hospital que atende a região pra ser medicada...
Foi o que eu fiz, fui até ao hospital e a médica me pergunta porque eu tinha ido a um hospital por conta de uma alergia simples e eu disse o que a mulher do GP me falou... ela ficou quieta, pegou a pomada, marcou quantas vezes eu deveria usar e sai com a pomada – de graça – do hospital.
Mais uma: ia fazer um curso de inglês perto da estação de Richmond, todo mundo falando que os cursos são bons e não são caros por ser uma escola do governo e tem desconto pra união europeia. Vou lá.
Chego, faço prova de nível, passo por uma outra professora para escolher horário de acordo com o nível que tenho e vou fazer a matrícula...
Há quanto tempo você mora aqui?
Há algumas semanas.
Algumas semanas e antes você não morava em Portugal, morava no Brasil? (por conta do passaporte português)
Sim, morava no Brasil.
Então, sinto muito, você terá que pagar o preço normal porque você precisa estar há 3 anos num país da comunidade europeia pra ter direito ao desconto....
Eu entendia mal o que a menina dizia e tentei falar mais com ela, ela correu e chamou outra mulher pra falar comigo... se descontrolou total porque, eu acho, já estava o dia todo fazendo matrículas de estrangeiros que não a entendiam direito... deve ser desgastante, eu sei, mas ela saiu da poltrona dela e chamou a outra moça, bem mais simpática, que falava devagar e com calma do que ela, saiu da cadeira como se eu a tivesse ofendido, sei lá... saiu na maior braveira... eu não tenho culpa se o trabalho dela é esse: atendente numa escola de idiomas em Londres... e olha que a moça deveria ser descente de indus e tal... alguém da família dela também já deve ter passado o mesmo que eu ...
A burrocracia, sim, buRRocracia aqui chega à enésima potência... Tudo o que você ganha e está no banco é sabido pelo “tax” se aparece uma dinheiro a mais, eles vão querer saber de onde saiu aquele dinheiro... se você não está enganando o governo...
Todo mundo que tem outro emprego aqui, informal tipo manicure, pede pra se pagar em dinheiro, pra não ir para a conta da pessoa. Os brasileiros sempre sabem dar seu jeitinho...
Tanto jeitinho que tem ilegais aqui que tem insurance number, falso, claro, mas tem! Tem insurance number, visto falso, passaporte português ou italiano falsos para estarem “elegíveis” para trabalhar aqui, conta pra compravar endereço que também é falsa. Aqui, você pagando consegue tudo! E me ofereceram! Mas como eu não sou ilegal, ando na lei e me ferrando com a burrocracia, crente que uma hora ela venha a sorrir pra mim... espero!
Porque, eu acredito, que quem está ilegal é como um assassino: não fica só em um, tem que matar os outros que descobrem o que ele fez... cada vez a coisa complica e aumenta mais o seu trabalho pra parecer na lei...
Três meses em Londres e finalmente consegui abrir uma conta no banco de 4 letrinhas! Eu não sei o que acontece... cada agência que você vai a pessoa tem que ir com sua cara, talvez... tenho um cartão de débito, acho que vou poder com ele transformar em pós-pago meu celular, porque pré-pago aqui é um absurdo! Você põe 10 libras e acaba em menos de uma semana! Um horror! E o pós-pago tem promoções do tipo “pague 35 por mês e ganha 2 mil minutos...”
Num banco muito famoso aqui, quase consegui abrir uma conta porque tem duas atendentes brasileiras, mas também precisava da tal conta com meu nome. O que brasileiros me disseram para fazer: pedir para alguém colocar uma conta de gás, água etc no meu nome por um mês para a conta vir no meu nome... brasileiros e seus jeitinhos.
Resisti até o último momento e deu certo, não precisei de conta com meu nome, só disse que estava trabalhando e tinha um cheque pra depositar (o que era verdade) e a menina não viu o cheque, não comprovou meu endereço, só pediu uma conta do Brasil, do mesmo banco, mostrei e ela abriu com meu passaporte português (original). No banco famoso aqui – um Brad... daqui, o Barcl... – elas queriam uma conta comprovando meu endereço no Brasil também, mas só poderia ser conta de telefone FIXO (celular não vale aff!), água, luz e estrato bancário, nada de fatura de cartão...
Estava já ficando de saco cheio, liguei pro meu irmão e desabafei: esse bando de idiotas pedem um monte de coisa, só dificultam a vida de quem está certinho por culpa desses fdps ilegais e que ainda se dão bem porque usam tudo falso e ninguém se toca!
Estava revoltada... como podem ser tão idiotas... não saber que alguém pode mudar por um mês a pessoa que vai pagar a conta ou qualquer outra coisa assim... (Collorida deveria saber disso, mas nunca se ofereceu, sempre pôs dificuldades) ou outro caso que fiquei sabendo aqui.
Celulares tem um seguro irrisório, todo mundo aqui, ou 80% da população londrina (seja inglês, ilegal, legal, adolescente) tem ou blackberry ou iphone. Você paga quando compra esse valor mínimo e quando diz “fui roubada, perdi meu celular” eles te dão um novinho em folha, não questionam, não pedem B.O. simplesmente você angaria blackberries ou iphones pra família toda... Isso é o mais engraçado, enquanto em algumas coisas eles desconfiam demais, em outras “abrem as pernas” (odeio esse tipo de termo, mas é a verdade). Depois, quando descobrirem (ohhhhh!) o que o povo faz, farão nova lei, nova burrocracia, que eu duvido parará o jeitinho brasileiro!
Como o outro dia uma menina me falou:
Só preciso de 100 libras para meu insurance number e a identidade de imigrante legal, sai em 2 dias
E eu, tonta:
Ah, você conseguiu tirar tudo?
Ela, sussurando: É falso!!
Ainda não tenho um insurance number, mas acho que agora as coisas ficarão mais fáceis com a conta aberta... foi um sufoco, foi angustiante esse tempo, mas acho que agora vai... e graças a Deus não preciso me sujar para nada aqui, estou limpa, sou legal, sou honesta e sou brasileira, mas não compactuo com erros, safadezas, sujeiras dos meus conterrâneos.
Parece que estou sendo má com os brasileiros ilegais, né? Mas se eu contar o que fazem aqui, vão me entender, num próximo post.

Um comentário:

  1. Rê desmistificando Londres! E eu jurando que tudo aí era tão certinho...

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